Canalizar Córregos e Rios - Solução ou mais um problema?
Tendo em consideração as obras de canalização do Rio Jacuba, no Município de Hortolândia, é pertinente considerarmos o artigo abaixo do Projeto Manuelzão que desmotiva totalmente o uso da canalização em rios e córregos tendo como base experiências negativas de canalização na Europa, aqui em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Isabel Regina de Souza Pereira (Belinha)*
Apolo Heringer Lisboa**
Há mais de meio século as cidades da Europa canalizaram e retificaram seus rios e córregos com o objetivo de se protegerem contra as enchentes que ocorriam regularmente.
Há bem menos tempo São Paulo e Belo Horizonte também fizeram a mesma coisa, sem perceber que estavam contribuindo para piorar o problema das enchentes e privando as cidades da beleza dos rios.
Hoje, na Europa, a maior parte dos rios e córregos já está sendo revitalizados, ou seja, as canalizações já estão sendo desfeitas e devolvidas as curvas originais dos rios. Para diminuir as enchentes e trazer o peixe de volta.
O que levou as cidades européias a tomarem a decisão de devolver a forma original a seus rios e córregos foi ter sofrido na pele o mesmo problema de enchentes que hoje São Paulo e Belo Horizonte enfrentam.
É sinal de inteligência aprender com os erros e evitar a reincidência. Porque gastar fortunas em obras de canalização, se já ficou comprovado pela história que isto não resolve o problema de enchentes e acaba com as áreas de lazer?
A maioria de nossas cidades teve um crescimento desordenado e uma ocupação crescente do leito maior do rio, o que tem levado muitas prefeituras a tentarem resolver o problema com a canalização e retificação dos mesmos.
A canalização aumenta a velocidade da água e conseqüentemente o seu poder de destruição a jusante, propicia a ocupação e a utilização de áreas sujeitas a inundação, além de exterminar peixes, pássaros e a vegetação dos rios e das baixadas.
Precisamos mudar nossas referências. A história está aí. Não temos que cometer os mesmos erros de São Paulo e outras cidades, não precisamos desaparecer debaixo d’agua para concluirmos que canalização só faz piorar o problema das enchentes. Antes das canalizações, as enchentes atingiam apenas as áreas próximas aos rios. Depois delas, as inundações começaram a atingir bairros inteiros, destruindo casas e matando pessoas, como temos visto nos noticiários.
O Projeto Manuelzão estabeleceu a Meta 2010 com o objetivo de navegar, pescar e nadar no rio das Velhas em sua passagem pela Região Metropolitana de Belo Horizonte até o ano de 2010.
As canalizações poderão ser o maior obstáculo para a concretização desta meta; ainda mais em rios cheios de esgotos in natura.
Seja parceiro, não canalize, não aceite canalização em sua cidade. Não podemos aprisionar a natureza num canal. Ela reage violentamente.
O esforço de todos, ações inteligentes e políticas ambientais responsáveis são fundamentais para a harmonia entre o homem e a natureza.
Não queremos que as coisas fiquem como estão. Propomos não canalizar rios, mas tirar os esgotos dos rios. Propomos diminuir o cimento nos quintais, o cimento e o asfalto dos estacionamentos, ruas pequenas dos bairros e condomínios. Asfalto só para as avenidas e estradas, há outros pisos melhores para a infiltração da água. Às vezes, a enchente de uma cidade vem dos erros cometidos em municípios acima, como o desmatamento, os movimentos com a terra e areia, que vão diminuindo o leito dos rios, a ocupação urbana roubando o leito dos rios, etc. É uma bomba hidráulica que a canalização não resolveu em São Paulo, nem no Rio de Janeiro, nem em Belo Horizonte.
Há bons exemplos de povos que aprenderam a respeitar os rios e a lidar com a água aprendendo com a natureza. A água da chuva deve infiltrar o solo onde ela cai; por isso o solo deve estar preparado para isto. Deslocamento anômalo de água carrega solo e contribui para enchentes. As baixas de expansão dos rios e as lagoas marginais que a natureza produziu durante sua história, os seres humanos destruíram ou ocuparam indevidamente. Estes espaços precisam ser recuperados ou substituídos por outros, em áreas rio acima. A natureza não perdoa as agressões que sofre. A ignorância das leis naturais é nosso maior pecado ambiental. A solução é aprender com os mecanismos de controle que a própria natureza desenvolveu. Vamos assim economizar vidas e dinheiro.
O Banco Mundial e o BID bancos internacionais ligados ao FMI e à ONU, precisam colaborar e financiar a realocação de famílias urbanas que invadiram as margens dos rios. Atualmente, financiam canalização de rios, absurdo seguido por diversas instituições do governo brasileiro. O custo financeiro com as conseqüências das canalizações é imenso.
* Coordenadora do Comitê do Ribeirão da Mata
** Coordenador Geral do Projeto Manuelzão e presidente do CBH-Velhas
Alguns vídeos relacionados com o assunto
REVITALIZAÇÃO X CANALIZAÇÃO
Os motivos para a canalização e a não revitalização do Ribeirão Arrudas.
ENTRE RÍOS
Conta de modo rápido a história de São Paulo e como essa está totalmente ligada com seus rios. Muitas vezes no dia-a-dia frenético de quem vive São Paulo eles passam desapercebidos e só se mostram quando chove e a cidade pára. Mas não sinta vergonha se você não sabe onde encontram esses rios! Não é sua culpa! Alguns foram escondidos de nossa vista e outros vemos só de passagem, mas quando o transito pára nas marginais podemos apreciar seu fedor. É triste mas a cidade está viva e ainda pode mudar!
O video foi realizado em 2009 como trabalho de conclusão de Caio Silva Ferraz, Luana de Abreu e Joana Scarpelini no curso em Bacharelado em Audiovisual no SENAC-SP, mas contou com a colaboração de várias pessoas que temos muito a agradecer. Assista abaixo:
ENTRE RIOS from Caio Ferraz on Vimeo.
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