Peça teatral incita um questionamento sobre aspectos sociais e ambientais

11/11/2012 20:09

 

Hortolândia foi privilegiada, nas últimas duas semanas, em três escolas municipais (EMEI Santa Amélia, EMEF Nova Europa e na EMEI Emiliano Sanchez) pela Companhia de Teatro de La Plaza apresentando, em seis exibições, o espetáculo “Histórias com desperdícios”, com término no dia 8/11/2012 na Escola EMEI Emiliano Sanchez.

 

 

A História

 

O espetáculo originou-se da reflexão dos problemas sociais conseqüentes da Guerra das Malvinas que atingiu os ex-combatentes argentinos, onde muitos não conseguiram se restabelecer socialmente, sendo até hoje, mesmo passado 30 anos, freqüentemente discriminados na sociedade. Muitos deles se suicidaram, outros se tornaram moradores de rua e catadores de lixo. Neste contexto, há uma história de um soldado que perdeu a sua noiva ao voltar da guerra e entrou em um estado de devaneio que se somou aos outros problemas pós-guerra.

 

Neste turbilhão de problemas e emoções pós-guerra, começa a se formar o enredo do espetáculo. Utilizando a grande cidade como exemplo de aproveitamento e reciclagem dos “desperdícios”, a peça conta a história de um catador de lixo em seu trabalho diário pelas ruas. Vasculhando o lixo, ele encontra um velho rádio que o remete a um passado distante. É neste momento que o homem imerge em suas memórias, transformando incrivelmente toda a sucata espalhada pelo palco em um novo cenário, para contar a história de sua vida. Caixas de papelão se transformam em prédios e casas, tecidos verdes em grandes gramados, uma velha garrafinha plástica em um potente trator, surgindo então dois países separados por um rio. No entanto, em uma disputa por recursos hídricos, os dois países mergulham em hostilidades que os conduzirão a uma inevitável guerra.

 

 

Sobre a Companhia Teatro de La Plaza

 

O Teatro de La Plaza formou-se em 1983, em Buenos Aires, Argentina, com um repertório de obras baseadas em contos folclóricos. Realizou turnês por todo o país até o ano 1986, em que seus integrantes ingressaram ao “Grupo de Titiriteros del Teatro San Martín”, aonde trabalharam junto à equipe dirigida pelo grande mestre Ariel Bufano até 1991. Realizou montagens utilizando diferentes técnicas e combinando teatro de atores com fantoches de luva, teatro negro, sombras e outras diversas técnicas, especializando-se na animação de objetos. Em 2000 a Cia. radicou-se em São Paulo, e desde então vem representando o Brasil em diferentes festivais.

 

 

Reflexões

 

Em “Histórias com desperdícios”, Hector Girondo busca envolver os alunos em uma atmosfera de criatividade e imaginação. “Reflexões da sociedade contemporânea, como ética, meio ambiente e qualidade de vida são apresentadas na peça. Com isso, queremos promover a cidadania e levar até as crianças uma nova forma de pensar o mundo em que vivemos, para que elas tomem conhecimento de que pequenas atitudes no dia a dia são capazes de mudar o nosso planeta para melhor”, explica Hector.

 

O ator Wagner Dutra, que participou do espetáculo em Hortolândia, enfatiza o efeito negativo do consumismo doentio e como este afeta o indivíduo, a família e a nação através da distorção de valores. “Uma família enfraquecida é uma nação enfraquecida” dizia um de seus professores.

 

Conta que ficou super feliz, na última apresentação em Hortolândia, ao conseguir cativar uma criança que tinha medo de teatro. Através de brincadeiras em com bastante carinho motivou a criança para que assistisse ao espetáculo.

 

A técnica de animação de objetos usada lembra a forma como as crianças brincam e um dos objetivos da peça é retomar uma coisa que se perdeu, o resgate da construção dos brinquedos pelas próprias crianças, que são atualmente invadidas por uma quantidade imensa de brinquedos que já vêm todos prontos. “(...) na minha época eu fazia os meus brinquedos”, afirma Wagner.

 

Também um dos personagens, o “Mister Clip”, vestido de palhaço e que vende de tudo, representa os governantes que não estão nem aí com nada e que possuem interesses que visam o consumismo, as coisas, e nãos as pessoas. "Antes se valorizava as pessoas (ser) e se usava as coisas (ter). Agora se valoriza as coisas (ter) e se usa as pessoas (ser)", explica.

 

Com isso, podemos parar para pensar em Hortolândia e analisarmos criticamente “o desenvolvimento e as obras” que estão sendo realizadas em várias regiões do município e perceber se a ênfase está nos benefícios que serão oferecidos à população e ao meio ambiente ou está nos interesses comerciais e lucros pessoais derivados do superfaturamento de obras e de outros desvios de verbas.

 

O espetáculo, após as cenas de guerra, finaliza propondo que é possível “começar tudo de novo sem esta violência toda”. Agora, em nosso município, comunidade, família e como indivíduos, o que podemos começar tudo de novo?

 

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As apresentações foram realizadas por meio de uma parceria da Prefeitura Municipal e patrocínio do laboratório farmacêutico EMS.