28/06/2003 15:28
Sem condições de pagar aluguel, sem-teto fixaram moradia no prédio; prefeitura quer instalar museu
por Gabriela Corrêa Galvão - Hortolândia (Sexta-feira, 27 de junho de 2003)
Pelo menos seis famílias vivem atualmente nas dependências da antiga Estação Ferroviária de Hortolândia. O manobrador de trem aposentado, Cornélio Leite dos Santos, 58, disse que trabalhou na sede da Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A), em Paulínia, transferido de Bebedouro (SP), e que mora há 24 anos com a mulher e os filhos numa residência atrás do antigo prédio.
“Quando eu fui transferido de Bebedouro (SP), vim para Hortolândia porque em Paulínia não existia moradia. Paguei aluguel para a Fepasa, e estou aqui há um tempão. Pago água, luz, tudo direitinho. Se eu tiver que sair daqui, tenho meus direitos”, disse.
O cobrador de ônibus Rogério Franchi Ferreira, a esposa Érica Gilceli Galvão e o filho de dois meses vivem atrás da estação há menos de um semestre, mas estão em Hortolândia desde 2001. “A gente não tem condição de pagar aluguel. Eu espero conseguir uma casinha nossa, não quero ficar aqui muito tempo”, disse Érica.
De acordo com Ferreira, o local é tranqüilo, mas quando a família chegou, era freqüentado por usuários de drogas. “A gente fechou ali na frente, conversamos com quem vinha aqui e agora está tudo numa boa, eles respeitam a gente”, disse o cobrador, que instalou na nova moradia um tanque, pia na cozinha e um banheiro com vaso sanitário, pia e chuveiro elétrico.
A Prefeitura de Hortolândia deve fechar negócio com a RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A) para a aquisição do prédio da antiga estação da Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A) no próximo mês, de acordo com o gerente de Cultura, Paulo Eduardo Germano. A prefeitura declarou interesse no espaço, de aproximadamente cinco mil metros quadrados, antes da campanha de 2000, mas as negociações para compra do prédio, onde deve ser instalado um museu, foram aceleradas há cerca de um ano.
De acordo com o gerente, a Fepasa alega que as famílias, inclusive as mais antigas, são invasoras. “Quando adquirirmos o terreno vamos buscar uma solução legal e socialmente adequada para essas famílias, mas o que não pode acontecer é um dos primeiros prédios da cidade, patrimônio histórico, se deteriorar da maneira como está acontecendo”, afirmou Germano.
A gerente da Divisão de Habitação da prefeitura, Regina Hayashi, disse que, como a área ainda não pertence ao Executivo, nenhuma medida foi tomada além do levantamento da situação, feito há mais de um ano. “A responsabilidade do caso passa a ser da Habitação, quando o terreno for da prefeitura. Se precisarmos acomodar essas famílias tomaremos as medidas cabíveis”, informou.
O engenheiro Airton Franco Santiago, da RFFSA, disse que a área jurídica da entidade está estudando a questão das famílias que ocupam a estação. Santiago comparou a situação de Hortolândia com a de Sumaré. “As negociações com Hortolândia estão avançadas, mas assumir a estação depende mais da prefeitura do que da RFFSA. Sumaré está com autorização precária para utilização do espaço da estação no município, até que compre definitivamente a área”.