Boatos de toque de recolher por ordem do PCC chegam em Hortolândia

12/11/2012 23:50

Entre boatos e fatos ocoridos na capital, a onda do "toque de recolher"  por suposta ordem do PCC chega em Hortolândia.

 

Segundo Adagoberto do Correio Popular (1), parte do comércio de Sumaré fechou as portas com receio de um possível toque de recolher por integrantes da organização criminosa "Primeiro Comando da Capital (PCC)".

 

Conforme informado para o Correio Popular e para as emissoras Band e EPTV/Globo, por responsáveis pela Polícia Militar da região, não havia qualquer dado concreto sobre o "toque de recolher" por odem do PCC; no entanto os policiais estiveram alerta na possibilidade de qualquer manifestação.

 

Em Hortolândia, os avisos sobre o "toque de recolher" também chegaram nos bairros centrais como o Remanso Campineiro e comércios próximos ao Shopping, os quais estavam fechando as portas. "A assessoria de imprensa da prefeitura informou que até as 14h15 desconhecia qualquer ação violenta em escolas ou lojas" (1).

 

O que é o PCC

Primeiro Comando da Capital (PCC) é uma organização criminosa paulistana, criada pela Máfia Yuzo supostamente com o objetivo manifesto de defender os direitos de pessoas encarceradas no país. Surgiu no início da década de 1990 no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, local que acolhia prisioneiros transferidos por serem considerados de alta periculosidade pelas autoridades. A organização também é identificada pelos números 15.3.3; a letra "P" era a 15ª letra do alfabeto português e a letra "C" é a terceira.

Hoje a organização é comandada por presos e foragidos principalmente no estado de São Paulo. Vários ex-líderes estão presos (como o criminoso Marcos Willians Herbas Camacho, vulgo Marcola, que atualmente cumpre sentença de 44 anos, principalmente por assalto a bancos, no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes e ainda tem respeito e poder na facção). O PCC conta com vários integrantes, que financiam ações ilegais em São Paulo e em outros estados do país. (6)

 

PCC não quer confrontar o Estado, garante especialista
O cientista político Guaracy Mingardi (5), especialista em segurança pública e crime organizado, garante que o PCC não tem interesse em confrontar o Estado. De olho nos lucros, a facção criminosa não permitiria que lideranças de bairro comprometessem o movimento de todo o partido para vingar a morte de um integrante. “O PCC controla várias cadeias e não ganharia nada com novos ataques”, explica.

Apesar da ameaça ser, até o momento, mera especulação, Mingardi critica a inércia da Segurança Pública.  “Em 90% dos casos não passa de boato. Se a população está insegura, é dever do Estado aumentar o policiamento, colocar uma viatura na porta da escola e garantir que o crime organizado não vai interferir”, analisa.

Mingardi também faz questão de tranquilizar a população. “Em 2006, os alvos eram as forças de segurança, não o cidadão comum. Quem mais matou civis foi a própria polícia. (2)

 

Quebrar a regra faz a diferença

No entanto, no meio de ataques na cidade de São Paulo, Mingardi afirma que “a Rota quebrou uma regra elementar de convivência com os criminosos, ao não garantir a vida do bandido que se entrega. A reação do PCC foi imediata.” “O pior é que o governador, com essa declaração, e ao nomear para o comando da Rota dois coronéis linha-dura, réus no processo do Carandiru, sinalizou que não pretende mudar. O que nos deixa sem saber até quando o ressentimento e a vingança vão alimentar essa guerra.” (3)

 

Os motivos da volta da violência em grande escala (4)

1. Quebra das regras de convivência entre policiais e criminosos, que implica em que o criminoso que se rende vai preso mas não morre.

2. Fim de um acordo insustentável entre a direção da segurança pública de São Paulo e o PCC.

O segundo motivo é mais recente. Embora a Secretaria de Segurança negue, é evidente que houve um pacto, mesmo que não explícito, entre os dois lados. Os quase seis anos de paz com o PCC não caíram do céu. Depois da demonstração de força de 2006 essa organização criminosa sumiu do noticiário. Silêncio nos presídios, onde as constantes rebeliões acabaram como um  passe de mágica, silêncio nas ruas, onde policiais civis eram proibidos de mencionar o Primeiro Comando da Capital para a imprensa, silêncio na Secretaria de Segurança, onde a nem se admitia a existência do “partido”, como o pessoal do metier chama o PCC.

 

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Referências:

(1) BAPTISTA, Adagoberto (gandi@rac.com.br) .  Hortolândia e Sumaré afetados por suposto toque de recolher. Correio Popular (www.rac.com.br) - acesso em 12/11/2012.

(2) NUNES, Thais. PCC impõe toque de recolher em São Paulo. Diário de Sâo Paulo (www.diariosp.com.br) - acesso em 12/11/2012.

(3) Violência: mais uma noite de terror em SP. Carta Capital (www.cartacapital.com.br) - acesso em 12/11/2012.

(4) MINGUARDI, Guaracy. Ocaso Policial - crime e poder na era dos direitos: Tiros na Noite. Blog do Estadão (blogs.estadao.com.br) - acesso em 12/11/2012.

(5) Guaracy Mingardi é doutor em Ciência Política pela USP e mestre pela UNICAMP. Autor dos livros "Tiras, Gansos e Trutas" e "O Estado e o Crime Organizado", foi investigador de polícia, Secretário de Segurança de Guarulhos e diretor na SENASP. Atualmente é pesquisador da Direito GV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Blog do Estadão (blogs.estadao.com.br) - acesso em 12/11/2012.

(6) Primeiro Comando da Capital. Wikipédia: a enciclopédia livre (https://pt.wikipedia.org) - acesso em 13/11/2012.

 

Artigos

Tiros na Noite

13/11/2012 02:29
Publicação original - 02/nov/2012 12:26:57 por Guaracy Mingardi*   São Paulo é palco de duas guerras distintas. Numa delas a troca de tiros se dá entre policiais militares e criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital. A outra, menos sangrenta mas também destrutiva, foi uma guerra de palavras entre o Ministério da Justiça e a Secretaria de Segurança de São Paulo, cada lado culpando o outro pela crise estabelecida. Ao que tudo indica essa segunda disputa arrefeceu, São Paulo...

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