Considerações sobre o carnaval

27/01/2013 01:27

Com os preparativos do carnaval deste ano, se faz conveniente uma reflexão sobre o tema.

por Leandro Bolina Nascimento

 

A origem do carnaval possui uma relação poderosa com a alegria gerada pela fertilidade da vida em todos os seus aspectos. Foi na evolução da sociedade grega que a bebida e o sexo foram introduzidos, nos cultos ao deus Dionisus. A vinda do carnaval ao Rio de Janeiro, como o quarto centro de excelência, resgata o espírito de Baco e Dionisus (bebida e sexo) - depois do Egito - originário, Grécia e Roma Antigas - pagão-cristão e Europa - Veneza.

 

A sensualidade e a beleza das mulheres brasileiras, a cerveja e o sexo são predominantes no carnaval brasileiro. Trata-se de características renegadas e condenadas pela civilização judaico cristã que se fundamenta na abstinência, na culpa, no pecado e no castigo. No entanto a igreja católica na figura do Papa Paulo II (século XV) permitiu a realização do carnaval, mas proibindo manifestações sexuais no festejo.

 

O início do carnaval brasileiro parece estar longe do conceito degenerado, pertinente aos bailes funks que são movidos a letras musicais que incitam as práticas abusivas, pervertidas e desrespeituosas até mesmo com respeito à figura materna. Infelizmente, este tipo de "música" invadiu o cenário canavalesco atual. Parece que o desafio para o carnaval é contrapor, e não de absorver estes conceitos. A degeneração atual estimulada pelo formato atual do baile funk que maximiza o empobrecimento cultural e educacional da população que vem se alastrando ao longo da história brasileira deveria ser erradicada do contexto carnavalesco.

 

De alguma forma, deveria ocorrer o resgate do que há de melhor na essência do carnaval como o uso de temas críticos sobre o abolicionismo e a liberdade de expressão, "no seu bom sentido", e as danças como o frevo que leva a refletir sobre a resistência popular da classe trabalhadora (na sua maioria, negros e mestiços) que criam os Grupos Carnavalescos Pedestres em contraposição à elite intelectual e econômica (a burguesia) no começo do século XX em Pernambuco.

 

A conotação do carnaval com a bebida e a prática sexual deveria ser minimizada, e assim, a necessidade de policiamento, ambulâncias, preservativos e o surgimento de DSTs seriam menores e haveria um aumento no aculturamento da população através da inserção de conteúdos e participação efetivamente popular que ressignifiquem o carnaval numa crítica política, social e econômica, principalmente a nível municipal. Do contrário, o povo brasileiro continuará na época dos gladiadores com o "pão e circo"; no carnaval, com a "bebida e sexo".

 

Referências Bibliográficas:

DIAS, Susana. Frevo nasceu como fenômeno de resistência popular. LABJOR, Unicamp. Acesso em: 28/01/2013.

ARTES.com. História do carnaval. Acesso em: 28/01/2013.

 

Fica abaixo a transcrição da opinião sobre o carnaval na TV Tambaú, na Paraíba, da jornalistra Rachel Sheherazade, um dia após a quarta-feira de cinzas de 2011:

 

Ontem foi quarta-feira de fogo e eu não vejo a hora de chegar a quarta-feira de cinzas. Não, não é que eu seja inimiga do carnaval. Até já brinquei muito nos clubes, nos blocos, nas prévias... Fui até Olinda em plena terça-feira de carnaval. Portanto, vou falar com conhecimento de causa e revelar algumas verdades que encontrei por trás da fantasia do carnaval.

 

A primeira delas. O carnaval é uma festa genuinamente brasileira. Não, não é. O carnaval tal qual como nós o conhecemos ele surgiu na Europa durante a Era Vitoriana e se espalhou pelo mundo afora adaptando-se a outras culturas.

 

Segunda falsa verdade. É uma festa popular. Balela! O carnaval virou negócio... E dos ricos! Que o diga os camarotes VIPs, as festas privadas e os abadás caríssimos chamados passaportes da alegria.

 

E quem não tem dinheiro para comprar aquela roupinha colorida não tem também direito de ser feliz? Tem não! E aqui na Paraíba onde se comemoram as prévias não é muito diferente não. A maioria dos blocos vivem às custas do poder público e nenhuma atração sobe em um trio elétrico para divertir o povo só por ser o carnaval uma festa democrática! Milhões de reais são pagos a artistas da terra e fora dela para garantir o circo a uma população miserável que não tem, si quer, o pão na mesa.

 

Muitas coisas me revoltam no carnaval. Uma delas é ouvir a boa música ser calada a força por hits do momento como “o melo da mulher maravilha” e similares que eu não ouso nem citar. Eu fico indignada quando eu vejo a quantidade de ambulâncias disponibilizadas num desfile de carnaval para atender aos bêbados de plantão e valentões que se metem em brigas e quebra-quebra! Onde estão estas mesmas ambulâncias quando uma mãe precisa socorrer um filho doente... Quando um trabalhador está enfartando... Quando um idoso no interior precisa se deslocar de cidade para se submeter a um exame! Eu me revolto em ver que os policiais estão em peso nas festas para garantir a ordem durante o carnaval e no dia a dia falta segurança para o cidadão de bem exercitar o simples direito de ir e vir.

 

Mas o carnaval é uma festa maravilhosa! Dizem até que faz girar a economia... Que os pequenos comerciantes conseguem vender suas latinhas, seu churrasquinho... Olha... Se esses pais de família dependessem do carnaval pra vender e pra viver, passariam o resto do ano à míngua. Carnaval só dá lucro pra dono de cervejaria, pra proprietário de trio elétrico e para uns poucos artistas baianos... No mais, é só prejuízo. Alguém já parou para calcular o quanto o Estado gasta para socorrer vítimas de acidentes causados por foliões embriagados? Quantos milhões são pagos em indenizações por morte ou invalidez decorrentes destes acidentes? Quanto o poder público desembolsa com procedimentos de curetagem que muitas jovens de submetem depois de um carnaval sem proteção que gerou uma gravidez indesejada? E isso sem falar na quantidade de DSTs que são transmitidas durante a festa em que tudo é permitido.

 

Eu até acho que o carnaval já foi bom, mas isso foi nos tempos de outrora.

 

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