Objeções sobre a aprovação da Usina de Plasma

13/10/2012 00:00

Deixamos abaixo uma entrevista realizada por Felipe Manoukian do PORTAL do Jornal O Vale com o professor Dr. Adilson Roberto Gonçalves sobre termelétrica, mas que se aplica em vários aspectos à Usina de Plasma para tratamento de resíduos sólidos já aprovada em audiência pública no município de Hortolândia.

 

Pensar em etapas anteriores à instalação da usina de plasma é fundamental. O mais difícil para qualquer município é mobilizar a comunidade para programas de coleta seletiva que agrupam questões econômicas e ambientais. A usina de plasma parece ser uma última opção e a mais fácil, depois de efetivadas e em funcionamento todas as outras maneiras de se lidar com o lixo de forma mais inteligente, eficaz e com envolvimento social.

 

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Obs.: os destaques em vermelho foram adicionados.

 

Especialista põe em xeque termelétrica movida a lixo

 

Para pesquisador, é preciso buscar solução inteligente para destino do lixo; emissão de gases poluentes é preocupação

Filipe Manoukian - São José dos Campos (August 14, 2011 - 04:29)


Defendida pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e discutida em 18 municípios do Estado, a termelétrica movida a lixo é colocada em xeque pelo químico e docente da USP (Universidade de São Paulo) Adilson Roberto Gonçalves.

“A termelétrica é uma solução paliativa para o gestor preguiçoso que não quer se envolver com outras soluções mais inteligentes, mais eficazes e com envolvimento social”, afirmou, em entrevista a O VALE.

Gonçalves também avaliou o modelo proposto pela Prefeitura de Taubaté como solução para o lixo -- uma usina de gaseificação por plasma. “É uma tecnologia ainda não totalmente madura e que demandará muitos estudos até que seja competitiva comercialmente.”

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

 

  • Deve existir algum tipo de incentivo em apoio aos municípios que buscam soluções para o lixo, livrando-se assim dos aterros sanitários? Devemos lembrar que a nova lei de resíduos preconiza a logística reversa, instrumento pelo qual o gerador do resíduos passa a ser responsável (ou co-responsável) por seu destino final. O uso de aterros sanitários em localidades com áreas disponíveis não se torna um problema no curto prazo. A questão é que no médio prazo ele se exaure, novas áreas precisam ser licenciadas e um material extremamente nobre é enterrado e não lhe é dada utilização adequada. A solução para o lixo passa pela conscientização de não gerar e não comprar o lixo, depois pela reutilização dos materiais do lixo, depois pela reciclagem. A deposição final (a mais fácil) deveria ser a última etapa após exauridas as demais (mais difíceis). Os municípios que encontrassem soluções criativas deveriam ser incentivados, mesmo porque programas de coleta seletiva ou similares envolvem a comunidade e poderia juntar questões econômicas com ambientais em larga escala.

 

  • Como o senhor avalia as usinas termelétricas? Elas são importantes para o desenvolvimento do país, considerando seu retorno em energia? Uma termoelétrica típica é movida a combustível fóssil (diesel, gás natural, carvão) o que é muito prejudicial ao país pois suja uma matriz energética que é quase metade de fontes renováveis. O retorno em energia é imediato, mas o custo ambiental, especialmente quanto a emissões atmosféricas não compensa o que se gastaria em hospitais e atendimento médico no médio prazo para mitigar os problemas gerados. Uma termoelétrica movida a biomassa vegetal já possui uma vantagem por ser de fonte renovável, mas há problemas de emissões de material particulado associadas. As termoelétricas somente deveriam ser pensadas como equilibradoras do sistema de geração de energia no país e instaladas em locais com baixíssimo impacto, longe de regiões urbanas e após um minucioso estudo dos impactos ambientais que serão gerados. Não é o que se observa nas propostas recentes de termoelétricas.

 

  • Pensando especificamente no meio ambiente, as termelétricas são uma solução interessante ou existiriam formas mais limpas de se lidar com o lixo? Com certeza a termoelétrica é uma solução paliativa para o gestor preguiçoso que não quer se envolver com outras soluções mais inteligentes, mais eficazes e com envolvimento social. A coleta seletiva é uma delas, mas que exige planejamento e envolvimento de todos os cidadãos. As termoelétricas movidas a lixo têm o agravante dos gases emitidos serem extremamente tóxicos no curtíssimo prazo, exigindo um controle de filtros e de emissões muito mais rigoroso que o de uma termoelétrica convencional a combustível fóssil. No início do ano visitei uma termoelétrica a lixo nos EUA (Pensilvania) que funciona bem mas tem 5 diferenças cruciais em relação ao que é proposto para a região do Vale do Paraíba e para o Brasil: a) o lixo é muito mais seco, com menor conteúdo de água, pois produção do lixo orgânico é menor em uma sociedade de consumo mais descartável. Isso dá um poder calorífico para o lixo que valha a pena queimá-lo para gerar energia elétrica. b) o controle de emissões é extremamente rigoso, com auditoria on-line do órgão ambiental para evitar qualquer saída de gases em níveis acima do que é preconizado como seguro para a região. Para isso usa filtros de alta capacidade e dentro do sistema de emissão zero, que aqui sequer é discutido. c) Os EUA são um país com grande área, mas muito mais urbanizado que o Brasil e com menor porcentual de áreas disponíveis para aterros.d) a geração de energia renovável lá já não é possível ou viável no mesmo porcentual que é no Brasil e e) coleta seletiva lá não está atrelada a melhoria de renda de catadores como aqui.

 

  • Como o senhor vê a tecnologia de gaseificação por plasma? Trata-se mesmo de uma tecnologia mais limpa? Tenho acompanhado um projeto de gaseificação por plasma em centro de pesquisa em Campinas, mas utilizando biomassa vegetal, especialmente resíduos agrícolas, como combustível. É uma tecnologia ainda não totalmente madura e que demandará muitos estudos até que seja competitiva comercialmente com as demais tecnologias. Mas vejo com vantagens ambientais, pois a geração de emissões é minimizada até o nível aceitável. Comparando com uma termoelétrica convencional é uma tecnologia mais limpa. Mas se utilizar biomassas inadequadas ou, como no caso do lixo, não tiver um projeto de filtros para remoção de todos emissões tóxicas, perderá esse status de tecnologia limpa.

 

  • Qual é a alternativa mais viável para solucionar o problema do lixo? Termelétricas, gaseificação por plasma, um programa forte de reciclagem, conscientização para consumo consciente, ou outros? O processso deve se iniciar pelo consumo consciente, que deve ser fruto de uma reavaliação do que queremos e pensamos como sociedade. Para isso, uma base educacional forte se faz necessário. Depois, passamos ao programa de reciclagem, com envolvimento de toda a comunidade. No Brasil, reciclagem é associada à geração de renda, dada a (ainda) pobreza de parte da população. No hemisfério norte muito funciona na base da entrega voluntária de material reciclável, o que aqui tem encontrado forte oposição, pela dificuldade de se organizar um sistema de coleta seletiva. A compostagem do lixo orgânico é algo pouco abordado e poderia ser usada tanto para produzir o bioadubo (útil em nossa região agrícola) ou mesmo metano em biodigestores. A termoelétrica seria a última opção, talvez para resíduos que não pudessem ser reciclados ou que não fossem adequados à biodigestão. Essa parcela do lixo poderia ser agrupada com resíduos agrícolas e alimentar uma termoelétrica de biomassa. Essa seria uma solução que resolveria problemas e ambientalmente mais saudável, sempre com os rígidos controles de emissão já citados.

 

  • Entre termelétricas e usina de gaseificação por plasma, qual seria a mais aconselhada? Se a escolha recair entre as duas, ficamos sem muita opção, pois a gaseificação por plasma visualiza muitas vantagens mas a dúvida ainda é sua viabilidade econômica. Uma termoelétrica teria de possuir todos os filtros e controles, o que para um gestor consciente são mais que óbvios. Cálculos iniciais mostram que uma tecnologia "emissão zero" custaria de 30 a 40% a mais na instalação da usina e cerca de 10-15% a mais na operação. Em um empreendimento de 1 bilhão de reais, por exemplo, isso valeria algo como 350 milhões a mais, o que pode afugentar um empreendedor mais afoito pelo lucro imediato que pela solução ambiental a longo prazo.

 

  • Conseguimos entender mais detalhadamente o funcionamento dessas duas alternativas -- termelétricas e gaseificação por plasma? Quais são os pontos positivos e negativos de cada uma dessas plantas? Em resumo eu diria que a termoelétrica gera energia com balanço favorável, mas de forma extremamente suja e prejudicial à saúde. A gaseificação por plasma é promissora, com menor impacto ambiental, mas ainda uma incógnita quanto à eficiência energética.

 

  • Pensando que o lixo precisa de solução, e que as usinas podem se mostrar eficientes, de que formas os municípios devem pensar a sua instalação? Afastadas de centros urbanos, por exemplo? Essa é uma das diásporas da discussão, pois a conclusão é para afastar a termoelétrica, mas o gestor desavisado argumentará que o custo para transportar o lixo para distâncias maiores inviabilizará o projeto. Um consórcio de municípios, atendendo a todas as prerrogativas de emissão zero, poderiam propor uma termoelétrica de resíduos que não puderam ser reciclados em local cujo raio de ação esteja bem longe dos centros urbanos. Com a baixa movimentação do ar no Vale do Paraíba, especialmente de Taubaté em direção à divisão com RJ, é difícil um local que atendesse a essas especificações.

 

  • A pergunta acima se deve a uma série de estudos compilados por um pesquisador da USP, Paulo Saldiva, que mostra que aumentam os riscos de cânceres e má formação congênita naqueles que vivem perto de termelétricas. É possível avaliar isso? O Prof. Paulo Saldiva é um expert no assunto, conhecido e reconhecido internacionalmente pelos estudos que faz sobre influência de emissões de poluentes na saúde humano. Um deles foi o de medir o raio de ação da poluição gerada na grande SP que atinge Jacareí. Junto com alunos de uma escola pública da cidade fez essas medições e constatou que a poluição paulistana chega facilmente ao Vale. Infelizmente, doenças mais crônicas, como o câncer, só podem ser avaliadas ao longo do tempo, muitas vezes quando já não há mais o que fazer. Séries históricas como a poluição de Cubatão dão informações de que esses levantamentos são corretos, ou seja, há forte correlação entre doenças congênitas e cânceres com a proximidade de termoelétricas.


Prefeituras aguardam consulta pública
São José dos Campos

O secretário de Meio Ambiente de São José dos Campos, André Miragaia, afirmou que o projeto defendido pela prefeitura é diferente de uma termelétrica convencional.

“Trata-se de um mix de tecnologia. O que será incinerado será só o rejeito”, disse.
Ele afirmou ainda que não existem definições no projeto e que o governo está aberto a sugestões. “Essa tecnologia de gaseificação por plasma parece muito interessante. O edital de consulta pública é exatamente para isso, queremos que as pessoas tomem conhecimento e façam sugestões.”

Miragaia afirmou que o governo deve decidir pela implantação ou não da termelétrica até o final do ano.

Em Taubaté, que vislumbra instalar usina de gaseificação movida a lixo, o secretário de Serviços Públicos, Roberti Costa, afirmou que a Alter NRG, empresa canadense que detém a tecnologia, mostrou que o sistema já está pronto para entrar em operação.

“Pelo apresentado, é uma tecnologia pronta para ser prática. Mas queremos ver isso na prática, visitando lugares que se utilizam dessa tecnologia”, afirmou ele.

 

PERFIL

Quem é
Adilson Roberto Gonçalves

Profissão
É professor na Escola de Engenharia de Lorena da USP (Universidade de São Paulo)

Formação
Formou-se em Química em 1989 pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Pela mesma instituição, concluiu mestrado e doutorado, em 1995

Pesquisa
É pesquisador da USP na área química, especialmente no setor de bioenergia

 

Fonte: www.ovale.com.br

 

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Comentários

Data: 16/08/2013

De: Valdir Ludwig

Assunto: Usina de Plasma

Srs. Gostaria de maiores detalhes, com relação a implantação de usina de Plasma. Tenho interesse e parceiros ( financeiros ), para viabilizar a instalação em pontos estratégicos em municípios que geram entre 50 à 200 t/dia de lixo.

Att.

Valdir Ludwig
54.99721935

Data: 18/02/2013

De: Renato SC Vieira

Assunto: Aterro Sanitário ou Usina de Plasma ?

Somos uma pequena cidade da Amazônia (Goianésia do Pará-PA) e, como várias outras pelo País, estamos na iminência de ter que implantar um sistema de aterro sanitário para substituir nosso "lixão". Temos disponibilidades de áreas longe do centro urbano para implantar o aterro, e estamos recebendo propostas sobre a usina de plasma. Uma das características do município são milhões de metros cúbicos de pó de serra gerados pela indústria madeireira, hoje em desativação na região. E, por consequência, o custo de limpeza dessas áreas, serrarias, localizadas no centro urbano. Perguntamos: as usinas de plasma são realmente eficientes, ambientalmente, para a queima desses resíduos ? Junto com esse resíduo, pode-se também dar uma solução para o lixo urbano (cerca de 25 ton/dia) ?

Poderemos trocar idéias pelo e-mail renatosergio1@hotmail.com ou conveniogopa@hotmail.com

Antecipadamente agradeço.

Renato SC Vieira
Prefeitura de Goianésia do Pará/PA

Data: 11/03/2013

De: wanderlei araujo filho

Assunto: Re:Aterro Sanitário ou Usina de Plasma ?

Renato, somos uma empresa de plasma e acabamos de concluir a primeira usina de plasma 100% brasileira. Neste mês de março devemos terminar os últimos ensaios,e esta primeira unidade é exatamente para 25 ton/dia e com certeza supre todas nescessidades do seu município.

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