Produtos Esotéricos Não Funcionam, Dizem Especialistas

18/10/2011 14:31

O Fantástico decidiu ouvir a ciência e consultar especialistas sobre a eficácia de produtos como palmilha que faz emagrecer, pulseira que combate enjôo e plaquinha que cura qualquer dor.

 

O Fantástico visita uma feira esotérica em São Paulo e faz o teste: será que todos esses produtos servem pra alguma coisa ou não passam de pura enganação?

Palmilha que faz emagrecer, pulseira que combate enjôo, plaquinha que cura qualquer dor.

“Vocês acreditam em extraterrestres? Eles que mandaram fazer. É bauxita”, diz uma mulher.

Óculos de plástico que diminuem miopia e até uma cerveja mágica, vendida como poção de cura: essas promessas estão em páginas na internet, nos manuais de instruções e no discurso de expositores que se reuniram para uma feira em São Paulo.

 

Para saber se há alguma verdade nas promessas feitas pelos vendedores ou no que está escrito nas embalagens, o Fantástico decidiu ouvir a ciência e consultar especialistas sobre a eficácia desses produtos.

Começamos com a placa indiana, aquela supostamente feita por extraterrestres. A oferta é clara: em contato com a pele, a peça de bauxita curaria qualquer tipo de dor. Levamos a placa a um laboratório da Universidade de São Paulo. Em um aparelho de raio-X, é feita uma espécie de radiografia do material, só quem em forma de gráfico. O resultado:

“É um alumínio comum, o mesmo alumínio que é utilizado pra fazer uma latinha de refrigerante”, explica Ricardo Alexandre Couto, especialista em laboratório da USP.

Fabíola Peixoto Minson, da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, é categórica: “Não existe nada, nada mesmo no mundo que possa curar todos os tipos de dores”, afirma

Por telefone, o inventor da placa admitiu que não existe comprovação da eficácia. “A gente se baseia nos testemunhos das pessoas. As pessoas usam a placa e ligam dando retorno” justifica.

O manual "ioga para os olhos" também é bastante claro: os óculos podem ser usados para os mais variados problemas de visão, incluindo infecções como terçol e conjuntivite. Em uma palestra, o representante afirma que o produto dá resultado em vários níveis de miopia.

Para a ciência, isso não faz nenhum sentido. “Nós não temos nenhuma comprovação em nenhum artigo científico, nem nenhum estudioso a respeito de correção de miopia e hipermetropia ou astigmatismo diz que um óculos desse tipo possa beneficiar os indivíduos”, argumenta Ana Luisa Höfling-Lima, professora da escola paulista de medicina.

Os furinhos na lente, usados em alguns exames de visão, concentram a luminosidade e melhoram o foco. Mas o efeito só existe enquanto a peça está diante dos olhos.

“A partir do momento que ele tirou o óculos, ele já não mais vai estar tendo o benefício”, diz Ana Luisa. “E quando se fala que cura terçol, conjuntivite, não tem o menor sentido”, completa a professora.

Em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, suspendeu a propaganda de todos os óculos que alegam ter propriedades terapêuticas. O diretor da empresa que vende os óculos "ioga para os olhos", Carlos Maurício Prado, diz que não confia totalmente no manual do produto. “Eu não atesto 100% tudo que esteja escrito no livro”, fala.

O Fantástico consultou um médico sobre dois produtos: a pulseira que cura enjôo e a palmilha que faz emagrecer. A pulseira deveria estimular um ponto que, segundo a acupuntura, tem efeito calmante e pode melhorar a sensação de enjôo. Mas, “Eu estou vendo que o estímulo é fraco, não me convence. Se você apertando aqui, funciona muito mais eficaz. E é de graça”, explica o médico acupunturista do HCUSP, Hong Jin Pai

A pulseira é vendida pela mesma empresa dos óculos. No caso da palmilha, a tentação é enorme. Perder peso apenas colocando o produto nos pés.

De novo, a ciência discorda. “Esse mapa não corresponde no conhecimento de medicina convencional nem da medicina chinesa”, afirma Hong Jin Pai.

“É uma enganação. Tem alguns adesivos, tem batons, tem cremes, tem shakes. E que, na verdade, são produtos fictícios”, alerta Cláudia Cozer, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade. “Quem compra uma palmilha como essa não vai ter resultado para perda de peso. Talvez por um tempo um pouquinho de massagem nos pés”, completa.

O responsável pela palmilha não quis gravar entrevista. A cerveja mágica é feita artesanalmente, de acordo com as fases da lua. A da lua crescente é chamada de poção de cura.

Levamos a bebida ao laboratório de controle de qualidade de uma cervejaria. A poção da cura também foi provada por um mestre cervejeiro.

“Baseado nos dados físico-químicos e a análise sensorial, a degustação, sim, trata-se de uma bebida fermentada. Tem um aroma bastante adocicado, intenso”, conta o mestre cervejeiro Luciano Hom. “É difícil dizer se tem alguma coisa de mágico. A mim não encantou”, completa.

O fabricante reconhece que vender a cerveja como poção de cura é perigoso e que, por isso, vai trocar o nome da bebida.

Nenhum dos produtos citados nesta reportagem tem registro na Anvisa. Para anunciar qualquer propriedade terapêutica, a alegação precisa ser comprovada.

“O que a gente vê é a utilização de pequenas informações com credibilidade acadêmica em produtos que não foram ainda avaliados academicamente”,afirma o especialista em medicina integrativa, Paulo de Tarso Lima.

 

Fonte: Rede Globo, Fantástico, 18/9/2011.

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